terça-feira, 10 de março de 2009

Aqui em casa tem BBC...

... que é Big Brother Calopsitas. Ou Big Brother Calos. Temos algumas regras que as avezinhas cumprem com a maior retidão. Na verdade elas é que ditam as regras. E quando estão animadas, quebram também. O interessante é que essa quebradeira é só de alegria, nada a ver com ganhar mais ração ou um petisco que o veterinário proíbe mas a mãe-calo aqui de vez em quando desobedece ou simplesmente porque são ambiciosas..Bebê ensinando os filhotes de Zizi a tomar banho... no prato deles!!!

Calôs não fazem nada por maldade ou por bondade. Fazem apenas por justiça e instinto de sobrevivência. Não estão nem aí com disputas. Quer dizer, são aves de bando e todo bando tem um chefe, e então volta e meia, principalmente quando estão no choco, os machos se estressam entre eles e se a coisa evolui pro barraco também sobra para as fêmeas. Tipo assim: Nego, quando se encapeta com a mania de Louro de bisbilhotar em seu ninho com Zizi, o põe pra correr com bastante estardalhaço. E se Bebê, que é calo-mulher de Louro, cisma de bisbilhotar também e Nego já está porraqui, dá-lhe um carreirão.
Estresse sim, mas das fêmeas os machos daqui de casa nunca chegam a tirar sangue. Em compensação, tanto Nego já feriu Louro quanto o inverso também é verdadeiro. Se eu não interfiro, não os separo? Quase nunca. Eles sabem se entender e eu não sou calo, não tenho capacidade para julgar se o que fazem é muito ruim do ponto de vista delas. Até porque quase nunca eles cometem ato que para os humanos é ruim.Louro e sua "macheza" dentro do ninho

Ta aí. Pensei que se as calos virem os humanos ferirem ou matarem para roubar, vão ficar assustadas mais com o barulho dos tiros, dos gritos. Elas são assustadiças por natureza, qualquer coisinha fora do script “calosiano” as leva a voar para longe dali. Mas não têm a menor noção do que é um revólver. Facas elas vêem de monte em casa, mas não sabem para que servem. Apenas gostam das lâminas prateadas e brilhantes.
Qualquer calo é antes de tudo uma perua. Machos ou fêmeas, não importa, adoram coisas que brilham e bem coloridas, chacoalhantes, dançantes. E as minhas são daquelas que têm as bochechas bem marcadas. Sabem peruinhas que abusam no blush e não o espalham bem? Elas são assim: com uma rodela bem nítida e vermelha (alaranjado forte, digamos) em cada bochecha. Fico embevecida olhando. São redondinhas e feitas de peninhas minúsculas. É por coisas assim que acredito que Deus existe. E Ele é um artista de mão cheia, habilidoso. Pintar cada peninha daquelas não é para qualquer um, não.
Pois bem, todos sabem que Bebê, a fêmea loirinha com pintas grandes acinzentadas, que é calo-mulher de Louro, o branquinho, sempre teve problemas com a maternidade. Primeiro não encontrava um calo-marido. Aí ele veio e não dava bola para ela. Depois namoraram e ela começou a por ovos que ele ia arremessando um a um ao chão da gaiola, quebrando-os. Dei-lhe corretivo e então passou a ser bom pai e bom marido. Mas ela adoeceu: ao tentar por seus ovos, prolapsou o reto, foi internada, passou por uma pequena cirurgia, aparentemente ficou bem, mas o veterinário falou que não deveria mais cruzar e menos ainda “botar”.
Perguntei: “Dr., então, por favor, me ensine a segurar a piroquinha de Louro e a pererequinha de Bebê?”. Falei sério, eu estava chorando de medo de Bebê se ferrar e sabia que Louro, depois que provou da “fruta”, ia cruzar, ora se não! E ele, sem saber se ria ou se me dava uma bronca: “Calopsitas não têm piroquinha... elas cruzam esfregando a cloaca uma na outra”. Pronto! Parei de chorar e fiquei inconformada! Como assim? Louro e Nego não têm piroquinha? Valei-me, meu santo!Bom, mas fazem amor mesmo sem piroquinha. Amor de dar inveja nos mal amados e de incentivar os que gostam de amar bem. Então resolvi que enquanto Bebê estivesse dentro dos 30 dias de recuperação em casa, Louro seria expatriado para a casa da secretária do lar. Coitado! Ele foi sapateando e gritando. Como estava muito estressado, chegou lá e já deu carreirão no calo-filhote (filho de Zizi e Nego) que ela tem em casa, mostrando quem mandava no pedaço. Depois disso conviveram bem, mas porque o outro achou melhor ficar na dele, quieto.
Ela, aqui, foi se recuperando maravilhosamente bem. Estava alegre como era antes, ensinando os filhotes de Zizi a fazerem arte, a voarem, comerem sementinhas... e fazendo seus vôos acrobáticos de puro exibicionismo. Ela sabe que é linda e exagera nas demonstrações de lindeza. E eu aplaudo. Claro!
Chegou o dia da volta de Louro pra casa. Foi na sexta-feira de carnaval lá pelas 8:30 horas da manhã. Entrou apavorando. Pirou quando viu Nego e Zizi sassaricando no viveirinho que é o ninho de amor dele e Bebê. E não fez nenhum pit stop: foi direto pra lá e expulsou os dois. Era uma macheza que só vendo. Bebê não sabia se gritava, voava, partia pro abraço... ela ficou em êxtase com a volta do amado. Sabe quando a gente está com saudades do amor que estava distante e ele chega de surpresa? Então...
Cerca de 1 hora da tarde, fui chamada à cozinha para de lá olhar o que ocorria no viveirinho deles, que fica na área de serviço. E eles estavam cruzando! Já! Era um motivo de alegria e outro de preocupação. Alegria porque é lindo ver o amor acontecendo e apagando saudades. Preocupação porque o médico me avisara que se ela pusesse ovos e novamente houvesse prolapso, teria que fazer uma cirurgia muito mais invasiva em seu corpinho tão frágil para extirpar ovários e oviduto.
Só que eu não nego que fiquei e fico muito mais feliz que preocupada. Não sei, talvez seja muita ignorância, mas penso que as calos sabem se devem e quando devem cruzar, procriar. “Então, vai dar tudo certo, porque Bebê não seria boba de se ferrar por causa de umas cruzadinhas”, pensei. E deixei o amor deles rolar livremente
Na sexta-feira passada comecei a ficar aflita. Já tinha um bom tempo que estavam cruzando e era hora de pelo menos um ovo estar no ninho. O bumbum de Bebê estava roliço, enorme. Achei que ela estava retendo o ovo. E fui me apavorando. No domingo à noite me impus um limite de espera. “Se até amanhã cedo ela não puser este ovo, vou levá-la à clínica, pois se estiver com ovo preso, é problema... e grande”. Imaginem se dormi?
Às 4 horas da madrugada de segunda-feira já acordara. E as aves ouvem e acordam também. E já saí do meu quarto assoviando, falando com elas, que era pra acordá-las mesmo. Parti para o ninho de Bebê e Louro. Nada de ovo! Fiquei com o coração apertado, peguei-a, dei-lhe um monte de beijinhos e, com cafunés, fui dizendo que deveria ter mais coragem, que pusesse o ovo, ia dar tudo certo e isso e aquilo. Meia hora depois voltei lá.
UEBAAAAAAAAAAAAAAAAA!!! O ovinho estava no ninho, perfeito, o bumbum dela não estava prolapsado e Louro cantava baixinho ao seu lado enquanto ganhava delicado cafuné da loira linda! Gente! Agora vou ficar nessa de agonia a cada ovinho a ser posto por Bebê. Mas por enquanto estou que é só felicidade por esses dois probleminhas lindos e penosos da minha vida.
Em seu viveirinho, Nego e Zizi levam sua vidinha tranqüila. Já estão com dois ovinhos postos. Para eles, a maternidade é mamão com açúcar, muito fácil e gostoso. Ela é excelente parideira e boa mãe. Ele, pai devotado e marido amoroso, cuidadoso. Garanto para vocês que não entenderam nada do que se passou com Bebê e Louro nesse intervalo de tempo. E que nem querem entender. Estão felizes. E isso lhes basta.
A mim também!