Sábado quase houve um “levante das tropas” no meu prédio. Mora aqui uma senhora de meia idade louquinha de pedra, que baba, ou melhor, cospe ao falar. E eu senti isso bem na minha cara. Está enlouquecida porque há um vazamento em seu apartamento que chegou a derrubar parte do teto do apartamento de baixo. A sujeita passou anos negando que houvesse o tal vazamento. Quando o teto do vizinho veio abaixo, foi forçada a admitir e, o que é pior, a pagar o conserto. Aí, minha gente, ela pirou.
É estranha, repetitiva e não consegue falar baixo nem a pau, Juvenal. Nem quando está de bom humor. Berra. Agora está irada porque houve o conserto mas não deu certo. Vocês sabem que não é uma delícia pedreiros, encanadores, gesseiros transitando por nossa casa e deitando marretada, fazendo aquele barulhão de destruição e uma poeira que entra até onde Deus duvida. Só que como ela berra demais e repete o assunto do berreiro à exaustão, provavelmente os caras se irritaram, ou se atrapalharam. Só sei que o conserto não funcionou. Estou achando que foi pirraça deles.
Aí, a criatura perdeu o eixo, a bússola, o cabresto, o freio de mão, a estribeira. Ela virou um megafone de uns dois mil decibéis na portaria do prédio. Gente, já são mais de 15 dias de gritos repetidos em tempo quase integral. Ninguém suporta mais. Ouvindo daqui, comentei que ninguém merece essa doida. E veio a resposta: “O porteiro da tarde disse que vai deixar o edifício só por causa dela”. Catei o interfone e falei para ele: “Fale para quem estiver gritando que vou chamar a polícia”. E ouvi o berro enlouquecido: “Polícia!? Chamarrrr polícia!? Eu vou chamarrrrrr polícia!”. (Parece que ela é francesa ou descendente de...).
Desci. Ela estava quase dentro da guarita, metendo o dedo na cara do porteiro e... berrando. Só não entrava porque seu corpo engordurado, ops, gordo, não passa pela porta. Juro, não passa. Parei, fiz cara de séria e cruzei meus braços, esperando, pois em algum momento ela se viraria e daria de topo comigo (é o teatro, o elemento surpresa... com loucos, a gente não pode ser normal). Realmente, ao se virar, ela se espantou com minha presença. E continuou berrando, desta vez se justificando, dizendo que estava cansada, que tinha que desabafar. Vinha em minha direção e eu não recuava. Aliás, ia em sua direção, devagar.
Ela falava e uma chuva de saliva atingia minha cara. E eu impassível. Empinava o peito enorme, o estufafa, batia nele com a mão, praticamente me peitava, e gritava: “Eu tenho dirrreito de desabafarrr!”. Falei em tom baixo que tinha mesmo, mas estava exercendo este direito na hora errada e com a pessoa errada. Que subisse para seu apartamento e ligasse de cinco em cinco minutos para o administrador e a síndica do condomínio (eles nem a atendem mais...), mas que não fizesse aquele escarcéu na portaria, com os funcionários, porque não é justo com eles e chama a atenção da vizinhança e de quem passa na rua, o que desvaloriza o prédio e nossos apartamentos, uma vez que aquela sua atitude não é coerente nem elegante.
Ah! Elegante. Desvalorizar. Toquei nos pontos! Ela estacou e arregalou os olhos. Mas retomou rapidamente a gritaria e me peitou de novo, batendo forte no peito (e chovendo saliva em mim): “Eu sou elegante!”. E eu, sem arredar pé nem afastar os olhos de seus olhos esbugalhados: “Olha, até há pouco tempo eu achava que sim, mas agora...“. Nisso, sai do elevador uma mulher que admiro, sempre simpática, pronta para um dedinho de prosa boa, inteligente. Ela segurava a cabeça com as mãos e perguntou para mim, para o porteiro, para o teto: “Gente, pelo amor, minha cabeça já está explodindo há três dias, esse berreiro tem que acabar!”. A doida se viu mexida. E lhe pediu desculpas, gritando que tinha desabafado. Ainda bem que a outra ficou quieta (acho que sua cabeça doía ao tentar falar, sabem?).
Bom, nessas alturas, eu já tinha conseguido fazer a biruta recuar da portaria para o corredor de acesso ao bloco onde fica seu apartamento. Sem empurrá-la. Sem tocá-la nem gritar ou xingar. E ela: “O administrrrador e a síndica? Esses bonecos? Eles acabarrrrram com minha saúde!”. E eu: “Não! E você fraquejou, você deixou? Não posso acreditar!”. Ela mudou o discurso berrado, seus olhos "amoleceram": “Não, não deixei porrrque sou forrrte. Eu é que vou acabarrrr com a saúde deles, mas agorrra vou descansarrrr. Sua perriquita está bem?”.
Ahahahahahahaha, gente do céu! Minhas calopsitas conquistarrram a doida! E me ajudarrrram a colocá-la parrrra descansarrrrr. Falei que sim, estavam bem, e que cada uma de nós merecia descansar. Ela ainda me acompanhou até o elevador, jogou beijinhos até “parrra a perrriquita ou as perrriquitas da senhorrra”. E a outra lá no fundo do elevador, coitada, quase morrendo de dor de cabeça. Agradeci e fechei a porta. Subimos. A pirada tomou o rumo do outro bloco de apartamentos. E de lá para cá, o Edifício Beatriz está que é só paz. Graças a uma paciência que não tenho, mas inventei, e minhas santas perrrrriquitas, lindas, que estão na foto abaixo (três filhotes de Zizi, que são os morenos, e dois loirinhos de Bebê, com cerca de 40 dias de vida).São 19:07 horas e acabei de receber o resultado da sexagem de quatro filhotes. Da esquerda para a direita: Neguinho (macho), Zim (macho), Loirinho (ainda não sexado, mas acho que é macho), Fumacinha (fêmea) e Lourinha (fêmea)
Ilustrações: bp1.blogger.com/.../lHYKq6v34iY/s320/grito21.gif, bp1.blogger.com/.../s400/mulher+brava.jpg e http://melhoragora.org/wp-content/uploads/2008/01/dor_de_cabeca4.jpg
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
Batalha verbal, calôs... e um pouco de teatro para engabelar doido
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