sexta-feira, 11 de julho de 2008

Tá, tá, eu sou azeda. Mas também sonhadora, lutadora...


... fico quase louca agressiva quando dou de topo com quem nada faz na vida a não ser copiar e colar, ler e reescrever, ouvir e repetir. Principalmente quando as coisas estão "pretas", tenho nojo de pessoas assim. Porque a culpa de as coisas estarem muito "pretas" é exatamente de gente assim. Gente que "deixa pra lá, não adianta mesmo". Eu não deixo. Não me dou a esse desfrute dos pequenos.
Leio muito e prefiro ler notícias. Leio de tudo, mas paro mais tempo em textos que me fazem pensar e resgatar em mim a advogada que não quer advogar, mas ama os embates por justiça, e a jornalista que fala de indústrias mas procura a verdade de qualquer fato. Tenho tido pouco tempo para muita leitura. E, claro, vou desprezando os recorta-e-cola, copia-e-publica, ouve-e-repete.
Trabalho, cuido de mim, de quem amo e de meus pássaros. Saio, vou a reuniões profissionais, faço supermercado, passo na farmácia, alimento os penosos... e corro para ler. As coisas "pretas" estão se atropelando. Elas tentam me atropelar. No guichê onde compro passagens para viajar, tenho que ouvir um imbecil dizer, atrás de mim, estufando o peito e olhando para cima, para onde está um aparelho de TV ligado: "Palhaçada. Por que prendem se vão soltar? Por que ouvir o jornalista se ele não é obrigado a falar quem são suas fontes? Isso é cortina de fumaça". Sou jornalista e nunca me favoreci disso. A sensação de ser ética é ótima. Foda-se que não ganho um dinheirão nem sou celebrada pelos babacas que adoram dourar a pílula dos que fazem o que nunca fiz. E os que adoram uma cortina de fumaça só pra poder falar: "Eu não disse?"... Sem ter raciocinado um segundo sequer. Sem ter educado os seus para raciocinarem.
Não digo nada, dou um sorriso (sincero) para a moça que me atendeu e engulo as palavras que vieram até a garganta, embolando minha respiração. Penso com força: "Este filho da puta merece que tudo seja uma palhaçada. Pelo jeitão, se acha acima do bem e do mal e, dependendo do interlocutor, deve ser daqueles que vão de vítima (do governo, que esses ignorantes bem vestidinhos acham que é o pai de todos, amém) a herói (porque estufa o peitinho e arrota sapiência contra... o governo, o pobre governo que tem que ser o pai de todos, mas mais deles, a classe alta e a classe média... média de tão medíocre).
Saio. Respiro fundo, sorrio largamente para o motorista que pacientemente me espera. Ele é um senhor que merece um bom governo, porque faz realmente sua parte: trabalha, trabalha e trabalha, é decente, não tem qualquer ranço desses de querer ser chique e descolado, dá graças aos céus por seus filhos estudarem em escolas públicas de boa qualidade. Sim, porque ele exige que seus filhos sejam bons alunos e boas pessoas, bons cidadãos em formação, aumentando a qualidade da escola que frequentam, não o contrário. Em casa, ele e a mulher é que dão o lastro moral que os filhos levam para a escola, para a comunidade, para a balada, para contaminar os demais. Eles também são sonhadores. Se seus filhos driblarem a bandalheira, já estará de ótimo tamanho. E a escola, a comunidade, o futuro agradecem.
Penso rápido. Saí do um lugar quase no meio do nada, no interior. Sem TV, sem jornais de grande circulação. E inventei de ser jornalista e advogada. Vim para a capital e me espantei com tudo: só a Estação da Luz abrigava mais gente que minha cidade inteirinha. A mensalidade de uma faculdade era justo o salário de meu pai e eu ainda tinha que pagar a pensão, o busão... Eu não conhecia ninguém. Trabalhei, estudei, trabalhei, trabalhei, trabalhei, estudei, estudei, estudei, estudo e trabalho. Amo muito tudo isso. Cavei minhas oportunidades. Agarrei-as. E até hoje não soltei nem vou soltar.
Sonho também. Sempre. E a cada pedacinho de sonho realizado, estico meu dedo médio para os que continuam estufando o peitinho, fazendo boca de desdém, dizendo que não crêem mais em nada, que é tudo uma palhaçada, que "já viram esse filme". Quero que se sentem na graxa e continuem apenas reclamando. Já que gostam, que reclamem e não tenham nem um pedacinho de sonho realizado para comemorar. E que fiquem como gostam no ciclo vicioso do negativismo e se matando para que seus heróis de araque continuem faturando alto em cima de sua mediocridade. Seus filhos, lógico, herdarão essa merda toda dos pais... medíocres.
Eu tenho sonhos realizados. Sempre tenho. Às minhas custas (e, olhem, custa muito, mas quando a alegria vem, é aos borbotões). Sonho muito e me viro em mil para realizar meus muitos sonhos. Não aguardo nada de ninguém. Vou e faço. Vou, faço, recebo pelo que fiz e compro, pago, dôo, brindo, brinco, muito feliz.
Às vezes me canso. Mas meu cansaço é gostoso, daqueles de tomar um banho, ser abraçada pela cama e tudo e quem está sobre ela e relaxo. Justamente. É justo que seja assim. Eu faço por onde. E durmo tranquila. Sei que amanhã será muito melhor que hoje, porque eu estou cuidando do meu hoje e do meu amanhã. E dos que me são caros.
E creio. Creio nos meus sonhos de que as coisas "pretas", necessárias agora para serem faxinadas, passarão. Eu cuido para que seja assim. E sei que meus sonhos são possíveis. E que terei a alegria de vê-los, um a um, tornados realidade. Ao meu lado, quem também merece. E só. Já é muito.

Ilustração: www.umtoquedemotivacao.com/.../uma-gota-de-agua